sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

O vai e vem do vento

Migalhas de um amor vivido. Era quase impossível esquecer tudo aquilo, havia sempre uma ou outra lembraça num amontoado de pensamentos escondidos numa gaveta qualquer da memória. A chave? Sua presença. Sua presença numa música , num gesto reproduzido por um amigo, ou outra pessoa, na lembrança de um beijo quando da observação de outro casal apaixonado, numa palavra, num cheiro, na sua presença mesmo, física, digo, mas mais ainda na impossibilidade de tocá-lo. Cascalhos apenas... grisalhos que já estavam aqueles pensamentos, ainda assim, reconduziam-me àquele tempo, bom tempo, levado pelo vento. Perdido. Reencontrado, porém, quando o mesmo vento insistira em soprar sobre mim novamente.
Brisa, ora quente, ora fria, a depender de quais memórias saltavam das gavetas que abria. Mas sempre envolventes, sempre. Podia sentir aquele vento abraçar-me e roubar todas as minhas forças, como você fazia. Aconchegante e carinhosamente. No fim, um sorriso, dois, na verdade, os nossos.
A brisa também sorriu, e depois, partiu, e me deixou outra vez sem os abraços. Fechou as gavetas que se abriram na minha mente, trancando de novo teus braços quentes, os beijos envolventes, o cheiro, os gestos, as palavras, as músicas da gente, trancou você, enfim. Fazendo-me crer que nunca mais você ía reaparecer, fazendo-me crer que agora eu iria te esquecer, fazendo-me perceber, no fim, e verdadeiramente, que por sua presença, e súbita ausência - da brisa, digo -  tudo poderia voltar, de repente. Só para eu poder ver meu guarda-roupas desorganizado, quando abrindo suas portas, reviraria todas as minhas roupas, na velha gaveta, até encontrar aquela antiga peça, bem no fundo, aquela que, mesmo sendo fã dos atos de caridade, era 'minha' demais para isso. Porque ela vestia além de um corpo. Vestia, na realidade, parte de minha história, ou a nossa história, por completo, marcante demais, pessoal demais, e portanto, repito, 'minha' demais para ser doada.

sábado, 17 de dezembro de 2011

Crença e querer

Oi, meu bem, como você está? (...)
Eu te amo, eu também te amo!


O coração palpitava, flamejando de amor. Era o início dele, e eu queria aquilo pro resto dos nossos dias, mesmo sabendo que brigaríamos, mesmo sabendo que podíamos terminar aquele lance, mesmo sabendo que ninguém é de ninguém pra sempre. Mas eram naqueles momentos que eu acreditava no amor de verdade, quando eu também, recostada em seu peito, sentia que seu coração não pulsava normalmente, mesmo que ele negasse, ou não dissesse nada; ali, quando os olhares não eram apenas pupila, retina, cristalino, fazendo seu papel, mas eles queriam ser mais, queriam ser boca, eles falavam, enquanto essa calava, porque não precisava dizer nada. Como algo assim poderia acabar de repente? Tanta perfeição para nada.
Perfeito? eu disse perfeito? Deve ser isso, ele não o é, se acaba, não o é. Acredito na perfeição divina, além dessa... deve ser esse o problema, ele não o é, ele nunca vai ser, quando não for verdadeiro. O que você sente e pensa que é amor, não é amor, amizade talvez. Desejo, amor, não. Deus é amor, se acredito ser Ele, e apenas Ele, perfeito, então, o amor é perfeito se for verdadeiro, porque também acredito que Deus é verdadeiro.
Ligações demoradas, apostilas rabiscadas com corações e nomes dentro desses, quando tudo que eu conseguia fazer enquanto "estudava" era isso, horas olhando para uma parede, ou para um guarda-roupas, ou para o chão, e não vendo nada disso, mas vendo um sorriso, ouvindo uma voz, sentindo um cheiro que não era o meu, nem o do lugar onde eu estava. Paixão, paixão. Como podes ser tão boa assim. E porque passas? Ainda bem que passas... o amor não ganharia forças se juntos, eu e você, você e ela, você e ele, eu e ele, ele e ela, não passassem por momentos onde tudo o que conseguem ver são guarda-roupas, parede e chão, de verdade. Como é complicado. Vive-se, sonha-se, mas também sofre-se, junto. E se não o fosse, não teria graça, porque ninguém aguenta não sair da rotina um dia sequer.
Eu acredito no amor verdadeiro. Eu quero um amor verdadeiro. Com olhares, sorrisos, com descompassos, só pra encontrar um passo de novo. E comemorá-lo. E mesmo assim, complicado, com sonhos, e sofrimentos, com vidas, para formar uma única vida, um único ser, enfim, tudo junto.

Com ligações sem hora certa... e não que algo tão imenso se resuma a um telefone, dois, na verdade - e uma única linha - mas é que não sei se acordaria feliz e disposta para atender todos os telefonemas a qualquer hora, só pra escutar alguém dizer do outro lado qualquer coisa. Mas queria acordar assim sempre, pra atender - Oi, meu, como está? ou o que houve?- e ao fim, responder, ou escutar sempre algo bom - Eu te amo, eu também te amo!